sexta-feira, 4 de abril de 2014

NATUREZA, ESPELHO DE DEUS - CHITÃONZINHO E XORORÓ


Eu sou a água dos rios das beiras da terra
A dar de beber as sedentas sementes
Eu sou a nascente, o cerrado e a serra

Eu sou o grito de dor da madeira ferida
A relva, a selva, a seiva da vida
Peão boiadeiro que o laço não erra

Eu sou o doce das frutas, a erva que amarga
O quarto de milha e o mangalarga
As águas revoltas são os prantos meus

Quem envenena meus mares, me queima e desmata
Me sangra sem pena, aos poucos me mata
Não vê que eu sou o espelho de Deus

Eu sou a natureza, indefesa, não me trate asim
Eu sou a aguia, a baleia e o angelim
Somos irmãos da terra, pedra, bicho, planta, gente, enfim
Pra que essa vida viva cuida bem de mim

Eu sou o sol das manhã sobre minhas campinas
O frio das neves, as claras colinas
Os pássaros livres, a sombra que resta

Eu sou o bicho do mato, a flor pantaneira
Eu sou a savana, a serpente, a palmeira
O cheiro do verde que vem da floresta

Sou cavaleiro do mundo, eu sou a boiada
Eu sou o estradeiro e o pó da estrada
Sou crença nos olhos dos homens ateus

Quem me devasta, me fere, me caça, me extingue
Me arranca as raizes não deixe que eu vive
Não pode se ver no espelho de Deus

Eu sou a natureza, indefesa, não me trate asim
Eu sou a aguia, a baleia e o angelim
Somos irmãos da terra, pedra, bicho, planta, gente, enfim
Pra que essa vida viva cuida bem de mim
 
 

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